Dilema
Hoje surgiu mais uma vez a discussão sobre o que é ser médico. Sempre que penso nisto, lembro-me de uma conversa que tive com um colega, especialmente de uma frase que ele disse, e me deixou a pensar: "Ser médico é uma profissão como as outras". É? Ou será diferente?
A lógica diz-me que sim, é apenas um profissão. Mas a sociedade diz o contrário. Somos tidos como uma "elite", com capacidades suprahumanas, mas somos de igual modo pessoas. Fazemos o nosso trabalho, recebemos por isso, e vamos de igual modo, ao fim do dia (ou ao nascer...) para casa, representar o nosso papel nesta vida.
Outra questão impoe-se: os médicos aproveitam-se das doenças, ou melhor, elas são a nossa profissão, a desgraça dos outros é o nosso ganha-pão.
Há algo de errado em enfrentar a Medicina apenas como uma profissão? Somos piores pessoas por usufruirmos, ainda que de certo modo indirectamente, do mal dos outros? Segundo um dos meus assistentes, a questão é simples: "Ou vocês irão ser médicos num hospital (lucrando com as doenças) ou vão para África, ser médicos sem-fronteiras..."
Ontem, após ter visto a Grande Reportagem da SIC senti aquele apelo a fazer o bem, a dar tudo o que temos pelos que menos têm, e partir, tentando melhorar uma pequena parte do mundo.